11.8.09

Pai

Por mais que o ato de ser honesto com os outros seja fundamental para a formação de caráter, é a honestidade que aplicamos com nós mesmos que transparece nossas melhores capacidades. Creio tanto nisso que acredito que é a sinceridade com nossas próprias consciências que nos motiva e nos torna seres humanos mais completos.

Pensando assim, pai, as linhas deste texto foram feitas com base em tudo o que eu quis lhe dizer ao longo dos anos – mas, por algum motivo, eu fui egoísta e guardei só para mim, mesmo sabendo que você merecia essas palavras mais do que qualquer outra pessoa.

Demorei um bom tempo para conseguir entendê-lo, ou até mesmo apreciar sua companhia em diversas ocasiões. E hoje sei que isso aconteceu porque temos pensamentos próximos em muitos pontos, o que é incômodo tanto para mim quanto para você.

A proximidade, quando não entendida, também é capaz de afastar. E a distância, às vezes, traz luz ao que permitimos tornar-se obscuro.

Nunca te agradeci pelos inúmeros sacrifícios que você fez como pai. Sei que foram muitos, e dos mais variados. Nunca agradeci os presentes, as caronas e as noites em claro, cheias de preocupações. Se estas eram apenas obrigações suas como pais, também era apenas obrigação minha agradecer cada ato, por menor que fosse. E eu deixei tudo passar, sem nunca mostrar o tamanho da minha gratidão.

Quando um de nós não estiver mais aqui, eu não quero que você se lembre de mim pelas discussões ou pelos problemas. Não quero que você se recorde apenas da parte ruim. Eu certamente não farei isso. Eu me lembrarei de um homem extremamente cabeça-dura e teimoso, mas que foi, na grande maioria das vezes, um excelente pai. Atencioso, cuidadoso e preocupado – mesmo que dos jeitos errados, de tempos em tempos.

Então, pai, esse é o meu presente atrasado de Dia dos Pais. É um presente com muitos anos de atraso. Se ser pai é servir de exemplo, de ídolo ou herói, eu posso afirmar para quem quer que seja – principalmente para mim – que eu tive um pai excelente. Que me ensinou o suficiente para criar bem meus próprios filhos e batalhar por minha própria família quando a hora chegar. Que me fez entender o quanto a vida seria complicada, às vezes, e me preparou muito bem para enfrentar qualquer coisa.

No dia de hoje, desejo que você carregue essas palavras contigo todos os dias, acompanhadas de outras, mais curtas, que você também me ensinou: obrigado e eu te amo.

Cuide-se, pai. Sempre.

25.1.09

Não é como nos filmes

Não, a vida não é como nos filmes. Talvez seria mais elegante se assim fosse, mas a realidade magoa um pouco mais e não é possível talhar uma vida inteira em cenas absolutamente perfeitas.

Amar demais é sempre possível. Mas, infelizmente, amar alguém por completo todos os dias é improvável. Os casos amplamente difundidos devem ser classificados como lendas, pelo teor de fantasia que carregam, ou então lendários, eventos que jamais acontecerão novamente.

Hoje eu posso garantir que dei a cara para bater mais vezes do que deveria. Mas me orgulho em afirmar que faria tudo de novo para aprender o que trago comigo até aqui. Se a sensatez que nos faz viver mais e com mais parcimônia, é a teimosia da falta dela que nos faz guerrear enquanto for possível enxergar horizontes.

Eu lutei. Derramei sangue, suor e lágrimas a cada passo do caminho que decidi percorrer sem precisar pensar duas vezes. Não há alma no planeta capaz de provar que isso não é o mais sensato. Se a vida é uma sucessão da glória das conquistas e do aprendizado dos fracassos, lutar por cada um deles na vida é essencial pra conseguir o que se almeja na vida.

E lutei também por amor. E, a este capítulo, dei o melhor de mim e mais tudo o que pude encontrar. A sensação sublime do amor me fez travar batalhas da maneira mais ferrenha que já consegui. Jamais me escondi. Jamais me acovardei. Jamais deixei de acreditar. Até agora.

Mas não é como nos filmes.

As brigas não terminam em beijos. Aqui, o tempo aceita se manter imóvel nos momentos graciosos de um casal, mas voltará para cobrar cada segundo durante os momentos difíceis.

Nos filmes, os problemas encontram solução em uma ou duas cenas. E as cenas que acompanhamos todos os dias nos garantem que isso é ilusório e que problemas consomem mais tempo e esforço do que deveriam, e, às vezes, precisam ser deixados para trás, mesmo sabendo que a possibilidade de esquecê-los é nula.

A cena que acabo de colocar em minha memória para que jamais seja esquecida é magnífica. Envolve conquistas grandiosas, amor, paixão e felicidade por toda uma vida. Contém sonhos e aspirações, das simples e infantis às mais arquitetadas, estabelecidas num mundo feito para duas pessoas que jamais precisariam de nada além da presença um do outro. A representação mais sincera de algo lendário. E ela vai porque talvez ela tenha realmente acontecido, mas há de perder-se porque não será repetida e nem gravada de outra maneira.

Não, não é como nos filmes.

16.9.08

Doze passos para o que eu desconheço

- Descarte toda a raiva. Ela não terá uso a dois.
- Imagine-se no lugar do outro sempre que puder.
- Amor e amizade existem quando favorável. E permanecem.
- Ninguém erra sozinho e são necessários dois para consertar.
- Avalie tudo com calma. Evite falar o que dói pensar.
- Existe solução para tudo. É só não querer dar as costas.
- Unicidade e singularidade não fazem o mundo perfeito. É vontade.
- Tentar e falhar andam muito perto. Consiga e seja, não tente.
- Entregue o que puder para o outro, sem medos. Isso é acreditar.
- Agüente enquanto valer a pena. Pare quando o amor acabar.
- Mágoas criadas a dois não são compartilhadas e não somem.
- Ouça o coração até o último segundo. Talvez ele chegue, sem avisar e sem volta.

3.8.08

O amor dos incompletos - parte II

O amor não vem aos poucos. É firme, forte e totalmente arrebatador. Amor de verdade faz-se incondicional, mesmo em face das maiores tormentas. Sabe ser amizade, compreensão e tranqüilidade, um de cada vez e todos aos mesmo tempo, se necessário. Ataca por todos os lados, cobre todas as bases, domina todos os setores possíveis. Para quem não está preparado, amor pode ser dor, mas é inegável que a nobreza presente em amar vai muito além do sublime.

Estavam ali fazia algum tempo. Um frente ao outro, como sempre faziam, atentos às palavras que diziam. A complexidade do amor fora assunto por diversas vezes, mas nunca debateram o que levava as pupilas do outro a dilatarem-se, acompanhadas do disparo frenético do coração e de uma sensação – ainda que passageira – de totalidade. Não vinha ao caso. Eram tão iguais, tão íntimos e tão próximos que pareciam ver o mundo da mesma forma.

Se existe algo a ser sabido sobre a vida é que algum ponto dela pode ser marcante o suficiente para que todos os seus pensamentos se realinhem. O ponto em que mudar qualquer conceito não é opção, apenas conseqüência. E, de todas as transformações pelas quais ele havia passado até tal momento, ver algo além do olhar e do sorriso dela seria a mais complexa de todas.

Eram dois incompletos, com altos e baixos tão extremos quanto o Sol e Lua. Para ambos, o amor trazia boas e más recordações. Prazeres e dores intensos como suas próprias personalidades. Era o que constituía suas proteções no processo de tentativa e erro em busca da felicidade a dois. As espessas armaduras que carregavam.

Entre os cigarros roubados, os copos de vinho e as longas conversas, ele se viu completamente apaixonado por ela. Como nunca esteve antes, certo de que encontrara alguém para compartilhar seus melhores e piores momentos. A visão fixada exatamente a sua frente era o amor maior que ele sonhara para todos os seus dias.

Ela se deixou levar. Derrubou tudo aquilo que lhe protegia e decidiu abrir o peito mais uma vez. Apostou todas as fichas e se apaixonou também, fazendo com que o que era incompleto nos dois fosse deixado de lado. Assim como ele, ela via além do óbvio, passando direto pelas falhas e imperfeições sem esquecer a existência delas, e permitiu que ele lhe trouxesse toda a preciosidade de um sentimento delicadamente construído para jamais se esgotar.

O amor para a vida inteira requer esforço e trabalho. Exige que ambos dêem as mãos e enfrentem qualquer problema com todas as forças somadas e que aproveitem os bons momentos com toda a intensidade que eles possam ter. Não se trata apenas de carícias e paixão. Envolve pedidos de desculpa, noites em claro e reconciliações. E, acima de qualquer outra coisa, se faz imprescindível reconhecer o valor de cada beijo, cada carinho e cada sorriso. Tudo isso somado dá plena certeza de que escolher viver a dois foi a melhor decisão que poderia ter sido tomada.

Ele e ela se conquistaram para sempre. São abraços e beijos, olhares e sorrisos, luzes que brilham na presença um do outro – completos e perfeitos em tudo o que o amor pode lhes fazer enxergar.

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30.7.08

O amor dos incompletos - parte I

(depois de um certo tempo, passava da hora de escrever sobre o novo pedaço da minha vida. Uma parte nova, que representa algo maior e muito melhor. Algo que tem a ver com ser completo, enxergar além das coisas mais banais e sentir de uma maneira plena o que eu busquei por toda a vida)

De tudo o que soube até agora
Investir no amor foi sempre o mais esperto
Ainda que complicasse em alguma hora,
Nada seria mais certo.
Amar é nunca ir embora,

Mesmo que algo seja esquecido,
Estranho, incompleto, perdido,
Um beijo basta para retomar todo o sentido

Até quando se perde a calma,
Maiores são aqueles sentimentos
Ontem, hoje e sempre, no coração e na alma
Responsáveis por todos os meus pensamentos.

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7.4.08

Sobre dualidades e mudanças

Define-se qual caminho percorrer na vida com certa facilidade em um determinado período da vida. Mesmo que não se saiba exatamente o porquê da decisão ou o que deve ser feito para atingir o objetivo definido – são fatores de bases mais complexas e tornam-se preocupações posteriores justamente por isso.

Há de existir uma adversativa muito grande nessa questão. Algo que jamais seria pensado no início e que pode, sem a menor sombra de dúvida, alterar o meio e o fim dos planos como se eles nada significassem.

Qual ‘você’ irá seguir o seu caminho? Qual variação da sua personalidade será capaz de percorrer o que pode ter sido definido com precisão cirúrgica e que não deveria ser afetado em nenhuma hipótese?

Somos muito mais do que conseguimos imaginar. Somos fragmentos, grandes ou pequenos, e cada pedaço precisa defender suas causas e coisas em algum ponto da vida. Mesmo que tudo seja extremamente oposto ao que já foi defendido um dia.

Ficamos presos à idéia de que é ruim nos afastar dos pensamentos que sempre tivemos. Eu não encontrava coragem para encarar mudanças da forma mais pacífica possível até perceber algo muito óbvio: mudar não é retroceder e tampouco significa evoluir. É mudar, variar, diferir – e isso não implica numa mudança no centro de gravidade do Universo. É muito mais simples.

Mudanças periódicas são necessárias. Vê-se através delas o quanto é preciso continuar batendo nas mesmas teclas e qual fragmento deve ser maior. Sabe-se que nenhum deles vai ser completo ou perfeito, mas algum dos pedaços há de se tornar mais preciso e necessário em certas horas.

Definir é simplesmente limitar, e cada parte diferente do caminho exige alguém que não saiba ser igual.

É não ser igual que nos faz especiais, raros e únicos, certo?

Acho que faz sentido.

2.3.08

Café, cigarros e um ano a mais

Ainda há dor em não saber o que vai ser. Nem onde, nem quando, nem como. O sentimento de desconhecer os caminhos a serem percorridos é complexo. Mas há satisfação suficiente em abraçar a idéia de que o desconhecido é a única certeza permanente. Isso não muda com o tempo.

O cansaço é constante, quem sabe passe algum dia.